O professor, cientista e pensador Humberto Maturana faleceu na última quinta-feira, 6 de maio de 2021, deixando um amplo legado a observadores de várias áreas do conhecimento.
“Tudo o que é dito é dito por um observador.” A célebre citação de Humberto Maturana (1928-2021) no artigo “Biologia da Linguagem: epistemologia da realidade” traz uma das bases de seu pensamento: o ser humano como ser interpretativo que cria a realidade a partir do seu olhar e do modo como a observa. A realidade depende dos “olhos” que a percebe e significa, ou seja, nosso olhar pode criar muralhas ou horizontes.
Maturana criou horizontes, tão amplos que suas ideias e escritos sobre a vida e o ser humano fertilizaram múltiplos campos do saber: Biologia, Educação, Medicina, Filosofia, Matemática, Arquitetura, entre tantos outros. Afinal, mais do que explorar aspectos das ciências da vida, ele também se dedicou a estudar a arte de viver e conviver:
“A pergunta básica que me fiz foi o que é estar vivo e o que é estar morto, o que precisa acontecer em sua interioridade para que eu, olhando de fora, possa decidir o que é um ser vivo.” – Humberto Maturana em entrevista à BBC News Mundo em 2019.
Entre seus feitos, lembramos que foi um dos candidatos ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia, junto ao cientista Jerome Lettvin; cunhou o conceito de autopoiese (biologia da cognição ou biologia do conhecer) com o biólogo Francisco Varela nos anos 1970, que revolucionou o modo de pensar contemporâneo e é ponto central de sua epistemologia; em 1994, recebeu o Prêmio Nacional de Ciência no Chile, somando diversos títulos e distinções como acadêmico e cientista. Em Santiago (Chile), sua cidade natal, foi co-fundador e docente junto à sua companheira, Ximena Dávila, da Escola Matríztica.
Em Appana, Maturana deixa seu legado desde a origem. O professor orientou a dissertação de mestrado de nossa fundadora, Káritas Ribas, que há mais de 20 anos atua com desenvolvimento humano, em contexto formativo e organizacional, investigando e difundindo o pensamento do neurobiólogo chileno em cursos dedicados ao autor e em formações que levam sempre seu nome como referência e base teórico-afetiva. Na última entrevista que Káritas realizou com Maturana e Sebastián Gaggero para a Revista Observatório 26 – Gestão de pessoas em organizações culturais, afirma que:
“Ter contato com a biologia cultural, sua linguagem, sua complexidade e sua elegância nos faz mais capazes de olhar o mundo do trabalho como um espaço a ser humanizado e vivido como ambiente de criação, e não apenas de reprodução.” (Káritas Ribas, Revista Observatório ed. 26, 2019)
Maturana, aqui em Appana, seu pensamento, obras e modos de atuar seguem sendo fonte de referência e grande inspiração.
Por um instante, silenciamos. Quando um observador se despede, ele não diz mais.
Contudo, seus rastros escritos, falados, sentidos, experienciados seguem vivos e férteis. Então, seguimos dizendo sobre e a partir desse grande pensador. Conversando, ou usando uma palavra dele: linguajeando.