Vivemos numa cultura centrada na busca de soluções a partir de conhecimentos aplicados. Tanto na vida pessoal quanto na profissional, valoriza-se ainda muito mais a objetividade de uma resposta do que a investigação do problema de dentro dele. Prefere-se o remédio que trata os sintomas (mesmo que cause efeitos colaterais e apenas mascare o “problema”) a “perder tempo” buscando compreender o fenômeno que o gerou ou mesmo a enfrentar a vulnerabilidade de dizer um grande e corajoso “não sei” diante de um problema. Ao mesmo tempo, essa exigência de resolver problemas aliada à alta produtividade tem gerado ambientes de trabalho cada vez mais estressantes e tóxicos, contribuindo para o aumento de transtornos como ansiedade e depressão (segundo pesquisa recente da OMS, o Brasil é o país o maior número de pessoas com transtornos de ansiedade do mundo!).
Já falamos sobre a diferença entre problemas, questões e paradoxos e onde a gestão entra para lidar com a não solução ou com o não saber. Quando falamos de gestão da complexidade, queremos afinar o olhar para cenários complexos, problemas complexos e pensamento complexo. Nesse sentido, é preciso desacostumar nosso olhar da lógica mecânica-produtivista, entender o pensamento linear, de causa e efeito, como uma das possibilidades de pensar e, sobretudo, reconhecer o que Maturana chama de “caminho explicativo da objetividade entre parênteses”, que afirma cada indivíduo como um sistema vivo e observador que cria a realidade. Saímos aos poucos da dinâmica dos argumentos “certo x errado” para adentrar a compreensão do ser humano como ser bio-psico-social que cria e interpreta o mundo a partir da linguagem e, portanto, a partir de seu ponto de vista.
Nós, seres humano, existimos na linguagem. Enquanto tais, existimos num mundo que consiste num fluxo de nossas coordenações recursivas consensuais de ações com outros seres humanos na práxis do nosso viver. As vidas que nós seres humanos vivemos, são, portanto, necessariamente e sempre de nossa responsabilidade, porque elas surgem em nosso linguajar: os mundos que vivemos são sempre constituídos em nossas ações humanas. (Maturana, 2014, p. 382)
A Ontologia da Linguagem nos oferece um caminho para a autorresponsabilidade por meio da ampliação da consciência de nossos próprios contornos e de nossos fazeres. Essa teoria nos possibilita criar recursos próprios para gerenciar nossas próprias emoções, encontrar formas mais assertivas e qualificadas de nos comunicar, negociar e definir acordos para lidar com cenários complexos e tomar decisões considerando um maior espectro de variáveis além do nosso próprio ponto de vista. Expandindo nossa percepção da realidade, tornamo-nos capazes de investigar diversos olhares para “fatos concretos e existentes” como fenômenos ônticos e para suas particularidades e natureza como fenômenos ontológicos. Dessa forma, ampliamos o olhar para diversos caminhos explicativos a partir de processos de comunicação, de rede de conversações e do envolvimento de nossa emocionalidade na gestão da complexidade.
A Especialização em Gestão da Complexidade com esse olhar da Ontologia da Linguagem oferece um modo de pensar e se afetar que pode se tornar um modo de agir diferente no mundo. O curso é vivencial, com aprofundamentos teóricos tanto sobre ontologia quanto sobre a complexidade. Nele, apresentamos novas formas de intervir e gerir a complexidade e novos caminhos para enfrentar a interdependência dos desafios da gestão a partir dessas teorias e da revisão de nosso olhar.
Referência bibliográfica
MATURANA, H. Realidade: a busca da objetividade, ou a procura de um argumento coercitivo. in MAGRO, C.; GRACIANO, M.; VAZ, N. A ontologia da realidade. 2. ed. Belo Horizonte: UFMG, 2014. p.289-388.
por Carolina Messias
Um ser letral, pesquisadora de processos de escrita, mestre em Literatura e coach com formação comportamental e ontológica. Reúne suas paixões por Comunicação Textual e Desenvolvimento Humano na Incipit Hub.